quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Joio

E quando você menos espera, ele volta...
Há quanto tempo tento separar o joio do trigo...?

Separá-los, sim, pois um pode fazer mal ao outro. Ambos são extremos de idealizações muito distintas.
Meu trigo convive, existe em ambientes impessoais, democráticos. Longe de seguir a melhor estrada, o caminho pisado, mas realiza-se diante do mundo. Apenas diante do mundo. Meu joio é valoroso. Seria mais se pudesse ser bom também no momento em que enraíza...

Meu joio é o ideal romântico da angústia. Ela, que faz querer rasgar a pele para que os pensamentos existenciais mais profundos saiam do corpo. Pessoa? Morte? Vida? Vida após a vida?

Meu joio cala o trigo. Torna-o incapaz, mudo, paralisado. Sufoca-o. Meu joio acentua os vícios, nunca as virtudes.
Meu joio é o bar escuro e frio, cigarro e álcool sobre a mesa. É a ilha-planeta em órbita desconhecida e inalcançável. Meu joio é o coração de Werther, excessivamente consciente da realidade do ser, mas apaixonado pelo supostamente impossível, que mora ao lado.
Meu joio é cético, ateu. Mas meu trigo também.
“Deixai-os crescer juntos até a colheita, e , no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro.”

“Deixai-os crescer juntos”, sim, com toda certeza. Meu joio, porém, nunca será queimado. Meu joio e meu trigo se enfrentam, se cortam. Mas se sustentam à distância com o passar dos dias.
Meu trigo é belo, sim! Palatável, palpável, democrático.
Meu joio também, ainda que inatingível aos olhos do mundo.
São contrastes feito branco e preto, mas quem ou o quê se arrisca a decidir pelo valor maior de um dos dois? Como apostar se a essência de um se encontra no extremo oposto?
Não se tocam. Ainda.
A morte de um implica a morte do outro.
Aproxime-os
e a vida será eterna, ainda que por um minuto apenas.
CP

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