segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pena

PENA
“Quem quere passar além do bojador, tem que passar além da dor.”

Mas aquilo não era dor. Ia além do mensurável, longe do que se pode nomear. Não se trata de passar além da dor, não se trata de ter o mar em que Deus espelhou o céu. Trata-se simplesmente de não ter alma pequena. Trata-se de sentir o peso da alma nas mãos, de sentir cada gota de mente saindo pelos poros.

Falo de alma, mente, cabeça, cérebro, energia. Massa cinzenta! Conexões, circuitos, impulsos que se sobrepõe na velocidade da luz.

Pensa, pensamento! Pensa, mente! Pensamente. Pensamente, pensa e mente, pesa a mente. E continua lá dentro. Um tremor que temo não parar. Vigiado 24 horas por dia, temperatura, pressão, inclinação, sísmica, enxofre, radiação e satélite. Vigiado 24 horas por dia e ainda assim explode feito um vulcão, sem que se possa fazer nada.

E quando explode não sinto o corpo todo, sinto cada parte dele. A ponta de cada um dos dedos, o frio de cada gota de suor que escorre entre os peitos, nas costas e mãos. E o queixo treme em sincronia com o pulso e com a respiração. Continuo vendo com os olhos mas há algo que comanda a fala, o gesto. Sinto cada palavra antes de ela sair pela boca. Quase me vejo de cima da minha própria cabeça. Vejo e sinto as coisas, como se todas significassem o mesmo.

Enxergo.

E parece que não vai passar...
Parece que aquele “nunca vai passar” vai durar pra sempre.

E os sonhos passam voando perto, fazem vôos rasantes na cabeça e seguem para destinos muito diferentes do esperado. Na hora o sonho morre.

Eu mato os sonhos. Assassino os sonhos.
Cimento meu crânio e o torno semipermeável. O sonho e a vida saem, mas a membrana não os deixa voltar.

E é o momento em que a razão extrapola o explicável. Razão, razão, razão. Só razão. E na hora eu preferia não saber de nada...

Só queria parar. Só queria que parasse. Que a cabeça parasse de pensar, que o queixo parasse de tremer, que as mãos não suassem mais. Queria rir por achar graça, não pra fingir democracia. Porque aquela piada não tinha a menor graça. Mas a vontade de gritar era tão grande, a vontade de rasgar a pele para aliviar a pressão era tão insuportável que eu ria. Mas a piada não tinha a menor graça.

Essa piada toda não tem a menor graça. Não sei se porque não a entendo ou se porque simplesmente parece que não tem fim. O fato é que eu preferia nunca a ter ouvido na vida.



CP
Imagem de Rubem Grilo

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